Feliz Ano Novo!!
Ou então como dizem no Japão, Akemashite omedetou gozaimasu!
Hoje vou compartilhar um pouquinho de como foi a Virada do Ano aqui do outro lado do mundo, que aconteceu literalmente 11 horas antes da virada ai do Brasil.
No dia 31, meu namorado e eu passeamos por Kyoto e perto das 23 horas fomos para o Templo Heian-jingu. Em frente ao templo tinham diversas barraquinhas, bem clássicas dos festivais japoneses (também conhecidos como matsuris), todas vendendo diversas comidas típicas de matsuris, como takoyaki (bolinho recheado com polvo), yakisoba, okonomiyaki (uma panquequinha com repolho, ovo, bacon, e tudo o que há de bom), maçã, mexerica e uva do amor, salsicha no palito, batata frita sabor nori (alga japonesa) e sabor curry, pão de melão (conhecido como Meron Pan), entre diversas outras comidas que senhor! Eu queria comer tudo e mais um pouco, mas meu estômago e minha carteira não permitiram tal feito. ><
Compramos também cerveja e sake com sabor de pêssego para fazermos o brinde da virada, já que não tinha champanhe ou nada parecido, e fomos para o templo.
Vimos uma fila enorme na entrada do templo, e como bons curitibanos que somos, pensamos “Bora entrar nessa fila, vai ser rapidão”. Primeiro, a gente nem sabia pra que era a fila, segundo, imaginei dois loiros altos, perdidos numa multidão de japoneses, aporrinhando o saco fazendo live no insta quase a meia noite.
Descobrimos então que a fila era pra fazer as orações da virada.
Sim, aqui no Japão, ao invés do pessoal passar a virada enchendo a cara e caindo no mar tentando pular as sete ondinhas, eles passam em família, indo nos templos, fazendo orações para pedir proteção, saúde, sorte e qualquer coisa do seu desejo. E não, não teve fogos de artifício.
Estávamos ainda na fila quando escutamos a contagem regressiva, que estranhamente já estava no 3… De repente todos mundo gritou “Happy New Year!” e pronto. Acabou. E a fila ainda não tinha andado direito.
A gente se olhou e riu, porque estávamos esperando pelo menos um pouco de animação dos japoneses, mas não. Foi estranho, sentimos falta da zona, gritaria, fogos e a galera se abraçando. No final das contas, conseguimos chegar no final da fila antes da 1 hora da manhã, fizemos nossos pedidos para o ano que acabou de começar, compramos mais comida e vazamos.
Essa falta de animação comparada aos brasileiros se deve ao fato de que, para os japoneses, a virada do Ano é um momento para se passar com a família, e não de festa como no Brasil. Além disso, muitas pessoas vão nos templos para se benzerem a fazerem suas orações no dia 1º, e não no dia 31 na virada.
Então fomos no templo dia 1º também, pra ver qual era a pira. Resolvemos ir no templo Fushimi Inari. Gente, imagina um rolê cheio. Tipo Caiobá. Ou seja, a muvuca sempre existirá no primeiro dia do ano, independente do país ou das tradições da virada.
Bom, estávamos indo para o templo, e eis que eu vi um anúncio que é relativamente comum nas ruas de Kyoto, escrito “Aluga-se quimonos”. É super comum os japoneses irem em roupas típicas, tipo quimonos e hakamas, e já que estamos no Japão, bora seguir as tradições, não é mesmo?
Além disso, os japoneses, em geral, acham lindo estrangeiros usando as roupas típicas japonesas, como quimonos e yukatas (que seriam um estilo de quimono com tecidos mais leves, usados no verão). Alugamos os quimonos (só eu queria no começo, mas no final meu namorado se rendeu e falou “já que você vai passar vergonha, pelo menos vamos passar vergonha juntos né”), e fomos para o templo.
Eu estava me sentindo linda! É que eu sempre sonhei em usar as roupas clássicas japonesas, mas senhor, que ideia de girico escolher usar quimono pra, literalmente, subir a montanha! Isso porque o templo do Fushimi Inari é conhecido como o templo dos Mil Portais, e tem literalmente 4 km de portais morro acima.
A gente subiu até o topo? Obviamente que não. Mas valeu muito a pena <3
Além disso, nesse templo tiramos o famoso Omikuji, que são papeizinhos que contem sua sorte. É como o biscoitinho da sorte que você ganha quando compra um lanche no China in Box. Os japoneses adoram Omikujis, e em praticamente todos os templos do Japão você pode tirar sua sorte, porém, na virada do ano, eles levam ainda mais a sério isso.
A sorte pode variar desde Grande Maldição ou Grande Azar (dai-kyô) até Grande Benção ou Grande sorte (dai-kichi). Quando se pega um Omikuji de azar, a tradição diz que você precisa amarrar o papel nos galhos das árvores ou em estantezinhas para que esse azar não te siga. Já quando você tem um sorte, pode levar contigo o papelzinho.
Confesso que logo que cheguei no Japão, em Abril de 2018, fui tirar o Omikuji, e sim, consegui pegar o Grande Azar, e fiquei “etaaaaa p….”, mas a Sacerdotisa do templo me disse algo que fez muito sentido: “Bom, o lado bom disso é que se você está no fundo do poço, só tem um lugar pra ir, que é pra cima”.
Aquilo ficou na minha cabeça, e de fato 2018 foi um ano cheio de altos e muitos baixos. Morar no Japão sempre foi meu sonho, mas gente, muita coisa aconteceu. Chorei muito, deixei de me cuidar direto por um tempo, consegui superar isso com muito esforço e auxílio de pessoas muito queridas, nem estava esperando esse tipo de suporte delas. Mas também sorri bastante, conheci pessoas de todos os lugares do mundo e tive experiências incríveis! Foi complicado, foi sofrido, mas foi incrível!
E esse ano, o Omikuji veio literalmente o extremo oposto, a Grande Sorte!
O lado bom de 2018, apesar de ter sido louco, é que entramos e saímos do fundo do poço, sobrevivemos. E vivemos coisas incríveis! Agora esperamos que o ano de 2019 seja ainda melhor! Sabemos que terão dias escuros e chuvosos dentro da alma, mas os dias de luz e felicidade certamente se farão presentes. Vamos então aprender com as dores que estão por vir, e aquecer o nosso kokoro (coração) com os dias de luz e felicidade.
Com tudo isso, com essa maneira nada linear de contar como foi o Ano Novo aqui, gostaria de desejar que em 2019 você tenha força e coragem pra seguir seus sonhos, porque sair da zona de conforto para correr atrás do que queremos nem sempre é simples e por vezes demanda muito esforço, tempo e coragem. Mas vale a pena! Por mais que não seja perfeito, por mais que não seja no tempo que você espera, por mais que digam que você não pode ou não consegue, siga atrás dos seus sonhos! Eles valem a pena e você é capaz sim de realizá-los! <3
Que venha 2019! Akemashite omedetou gozaimasu!
FELIZ ANO NOVO!!!
Feliz Ano Novo!!
Adorei seu texto!!
Parabéns!!
Felicidades Aninha querida!!!!
Toca ai um violino para japonesada.
Abcs
Ana, amada! Que relato delicioso! Chorei e sorri com vc! Que 2019 lhe seja grandemente generoso, linda guerreira. Bjs. Saudades mil