Por Michelle Roque
Quem já viu o trailer desse filme no mínimo ficou curioso sobre o desenvolvimento do enredo – Uma família vai até uma praia e vê um corpo misterioso e percebe que o tempo passa extremamente rápido sem qualquer explicação. Os personagens envelhecem anos em menos de 1 hora e quando tentam sair da pequena praia, algo misterioso acontece fazendo com que eles fiquem presos, envelhecendo até a morte.
Parece uma história simples a primeira vista, mas é algo que cativa o espectador do começo ao fim. O filme é uma adaptação da HQ francesa “Castelo de Areia” de Pierre-Oscar Lévy e Frederik Peeters, que ganhou sua versão nas telas pelo aclamado diretor M. Night Shyamalan. Para quem não ligou o nome aos filmes, Shyamalan foi diretor de “O Sexto Sentido”, “Corpo Fechado”, “Sinais” e “Stuart Little”. Mas o roteirista e diretor tornou o material seu. Na graphic novel, a família central é formada por um casal, uma filha, um filho e um cachorro. Em Tempo, Guy (Gael García Bernal) e Prisca (Vicky Krieps) são pais de Trent (Nolan River) e Maddox (Alexa Swinton). Ele é um auditor, ela, uma curadora de museu. Os dois brigam muito, estão com planos de separação e a esposa descobriu uma grave doença. Ela encontrou na internet um local luxuoso que a “spammeou” tanto com as ofertas que decidiu passar lá as últimas férias em família.
Ao chegar no resort maravilhoso são super bem recebidos e a família aceita a sugestão do gerente de um passeio exclusivo numa praia deserta. Só que, logo na van, dirigida por Shyamalan, descobrem que estarão com o médico inglês Charles (Rufus Sewell), sua mãe Agnes (Kathleen Chalfant), a mulher dele, Chrystal (Abbey Lee), que tem uma deficiência de cálcio, e uma filha pequena, Kara (Mikaya Fisher). Na praia, encontram um rapper, Mid-Sized Sedan (Aaron Pierre), que fica com o nariz sangrando constantemente. Pouco depois chega o casal formado pelo enfermeiro Jarin (Ken Leung) e a psicóloga Patricia (Nikki Amuka-Bird), que sofre de epilepsia.
O filme “Tempo” segue a mesma linha dos thrillers que já aclamaram Shyamalan anteriormente – um suspense que prende a atenção e mexe com a ansiedade do começo ao fim. E o final, obviamente, é surpreendente como era de se esperar de um thriller de M. Night Shyamalan. O filme é de baixo orçamento, 18 milhões, poucos cenários, mas conta com a riqueza do enredo e das interpretações dos atores. Em recentes entrevistas, o diretor contou que decidiu roteirizar e filmar a história depois que uma de suas filhas o presenteou com a nova edição da HQ de Castelo de Areia, que veio no tempo certo para suas ideias de como tudo passa rápido demais.
Em entrevista para o Estadão, Shyamalan disse que acabou optando por movimentar a câmera em ângulos para criar uma geometria na praia e movê-la independentemente dos personagens para representar a passagem do tempo. Naquela praia, cada meia hora representa um ano na vida de uma pessoa. “É muito estranho como o filme espelha este momento”, disse Shyamalan. Afinal, nesta praia aqui onde estamos desde o começo da pandemia, o tempo também parece se movimentar estranhamente, tanto rápido quanto parado eternamente no mesmo mês. O desejo, tanto no filme como aqui, é sair o mais rapidamente possível.
O elenco traz Gael Garcia como um dos protagonistas, que abrilhanta ainda mais o filme pela atuação impecável. Mas quem chama atenção mesmo pela atuação são os atores que interpretaram os irmãos “Capa”, os irmãos protagonistas da história. A passagem de tempo rápida do enredo fica nítida pela troca dos atores conforme envelheciam. A atuação e percepção dos sentimentos consegue prender mais o telespectador na história.
“Tempo” é um filme que vale a pena ver, sentir as sensações e se surpreender! Em sua estreia já é sucesso pelo mundo, confirmando que Shyamalan é um diretor sensacional!