Pobres Criaturas: Um filme estranho e totalmente fascinante
Por Milly Rodrigs
Como descrever a genialidade, a sutileza e a peculiaridade desse filme?
Tome cuidado com pré julgamentos baseados apenas na sinopse de Pobres Criaturas, pois ele é muito muito muito mais do que apenas um resumo de três linhas. (E não foi um erro de edição a tripla sequência da palavra muito!)
O filme brinca com os sentimentos de quem assiste e coloca o espectador em uma viagem por uma trama surreal e ao mesmo tempo completamente realista.
Pobres Criaturas, que estreia oficialmente no dia 1 de fevereiro, é dirigido pelo grego Yorgos Lanthimos que já tem no currículo outros filmes também peculiares, como “A Lagosta” e “A Favorita”, e além disso tem um elenco de peso com nomes como Emma Stone, Willem Dafoe e Mark Ruffalo.
A trama, que prefiro classificar como uma fantasia dramática, se passa na Londres da Era Vitoriana e traz claras críticas ao machismo, à misoginia e ao elitismo, que ao mesmo tempo se mistura com o surrealismo de uma história inspirada em um clássico da literatura, o Frankenstein! Fato que a gente já percebe no início do filme com a apresentação do Doutor Godwin Baxter (Willem Dafoe), um cirurgião e professor de anatomia cujo rosto é cheio de cicatrizes, característica essa que faz as outras pessoas o chamarem de monstro.
Em sua enorme mansão, ele cuida da jovem Bella Baxter (Emma Stone), a qual ele considera como filha mas também como um experimento científico, já que ele foi o responsável por trazê-la de volta à vida, implantando o cérebro de um bebê em seu corpo adulto.
Achou estranho? Saiba que esse é apenas o início da bizarrice do doutor que ironicamente é chamado de “God” pelos mais chegados.
Apesar dessa condição atípica, Bella que aparenta uns vinte e poucos anos, tem um grande desenvolvimento no seu quadro mental, e é nesse ponto que eu ressalto a atuação impecável de Emma Stone, que ao mesmo tempo em que vemos uma adulta, também vemos uma criança em fase de crescimento!
Os primeiros passos, as primeiras palavras, as birras infantis, até chegar na fase de uma adolescente descobrindo o mundo. E é aí que a trama se desenrola!
Junto com o advogado mau caráter Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), Bella parte em uma viagem de descoberta do mundo e também de si mesma.
Mesmo com todo esse lado fantasioso, Pobres Criaturas não é um filme para menores de 18 anos, por conter cenas explícitas de sexo. Inclusive esse é um dos grandes questionamentos da trama que mostra Bella no auge da descoberta da sua sexualidade, porém que é reprimida diversas vezes, pois tal comportamento não é aceito na sociedade polida em que vivemos.
Curiosamente, sempre reprimida pelos homens que tentavam frear a sua necessidade de aventura para que ela pudesse caber na palma de suas mãos.
Durante o descobrimento do que é a vida, Bella, fora da sua bolha, se depara com situações sociais de muita tristeza, pobreza e violência o que acaba despertando sentimentos que antes ela não sabia da existência, como a tristeza e também a raiva. O que acabam colaborando com o amadurecimento da personagem desde a forma de agir como também de se expressar.
Pobres Criaturas é um filme que fala sobre a Liberdade, de ser quem é, de se aceitar e de se entender. Um filme que mostra a amplitude da vida diante de situações que não precisamos aceitar apenas para fazer parte de uma cultura social. Afinal, porque tentamos nos encaixar em situações em que claramente não nos fazem bem?
Em questões técnicas, Pobres Criaturas dá um show em fotografia e figurino! Inclusive é maravilhosa a forma que o filme muda de tonalidade ao longo da história, trazendo um preto, branco e cinza de uma Londres Vitoriana no início do filme, e ao longo dele evoluindo para tons coloridos e dramáticos, tudo sincronizado com as experiências da vida de Bella.
Outro detalhe da fotografia que conversa com a proposta surreal da trama, é o uso da lente olho de peixe nada convencionais, que dá um “plus” a cenas densas e perturbadoras.
Pra finalizar é necessário dizer, Pobres Criaturas é uma ode à arte e à descoberta da vida, do início ao fim. Uma belíssima experiência sensorial cinematográfica necessária aos amantes da sétima arte.
Avaliação: ★★★★★
Critica – Sobreviventes – Depois do terremoto